| 📚 A Leitura Como Refúgio em Tempos de Dispersão Digital
✍️ Texto
Minha primeira leitura foi O Seminarista, de Bernardo Guimarães — uma daquelas leituras obrigatórias do colégio que, aos dez anos, eu encarava mais como tarefa do que como prazer. No entanto, foi exatamente nesse momento que algo inesperado aconteceu: descobri o hábito agradável e revelador da leitura. Uma vez iniciado esse caminho, nunca mais consegui parar.
Décadas se passaram desde aquela primeira experiência literária, e hoje me vejo imerso em um mundo completamente diferente. Vivemos a loucura digital de nossos tempos — uma espécie de obesidade intelectual que nos consome silenciosamente. Passamos horas rolando as telas de nossos smartphones, absorvendo conteúdo sem nenhuma preocupação ou critério de qualidade. Nossa paciência foi drasticamente reduzida: já não suportamos leituras que durem mais de trinta segundos, como se nossa capacidade de concentração tivesse sido fragmentada em doses homeopáticas de atenção.
O mais preocupante é como nos tornamos vulneráveis à influência de desconhecidos. Aceitamos a opinião de qualquer pessoa na internet como algo crédulo e definitivo, mesmo sem saber quem são, de onde vêm ou qual é sua real experiência de vida. Entregamos nossa capacidade crÃtica a vozes anônimas que jamais vimos, ouvimos ou conhecemos verdadeiramente.
Nesse cenário, a leitura profunda se torna um ato de resistência. Cada livro que escolhemos abrir, cada página que nos dedicamos a ler com atenção genuÃna, representa uma pequena vitória contra a superficialidade que nos cerca. É um exercÃcio de paciência, concentração e discernimento — qualidades que parecem cada vez mais raras em nosso tempo.
Talvez seja hora de redescobrir o prazer daquela leitura lenta e contemplativa que me conquistou aos dez anos. Não apenas como nostalgia, mas como necessidade urgente de reconectar-nos com o pensamento profundo e a reflexão genuÃna que apenas os livros podem proporcionar.
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